A VIDA É A ARTE DO ENCONTRO
Vira e mexe eu digo que estou vivendo uma situação ISAAC (isso só acontece assim comigo), sigla que inventei me valendo do nome do meu velho pai. Hoje, a segunda newsletter depois de um tempo afastado disso aqui, quero lhes contar duas histórias que têm, em comum, a presença bruta do afeto - que com a graça dos deuses permeia a imensa maioria das relações que estabeleci ao longo da minha já não tão curta vida.
A primeira envolve Luiz Antonio Simas, a quem conheço há pouco mais de 15 anos. A segunda envolve Thiago Matos, a quem conheço há pouco mais de 3 meses. Ambas as histórias serão ilustradas com prints de conversas nossas justamente para dar ares de veracidade (e cores) ao que vou lhes contar - porque ambas são, de certo modo, inverossímeis.
Estamos no dia 08 de março de 2020. Eu, Morena e Leonel com passagens compradas pra irmos pra Paris no dia 10 de março. O coronavírus era um troço distante - só na Europa, norte da Itália, vitimando idosos… - e tínhamos a liberação da pediatra para a viagem, obtida uma semana antes.
Desci, com o Simas, para uma edição da Junta Local na praça Afonso Pena. Fiquei ali por não mais do que uma hora. Íamos almoçar nos meus pais, no Alto da Boa Vista, e (os prints abaixo dão veracidade ao meu relato) fui acometido por uma inexplicável emoção que me fez chorar enquanto eu ouvia Moacyr Luz cantando Gereba e Capinam. Escrevi pro Simão, que me respondeu de voleio. Ele, que já ocupava lugar importantíssimo na minha vida, foi fundamental no período duríssimo que se seguiu a esse começo de março.
Na manhã do dia 10 de março - voaríamos à noite - fomos alertados pela pediatra: a viagem estava cancelada.
Fiquei - e é evidente que essas cores que embelezam as passagens da nossa vida são também criações nossas a fim de trazer boniteza e emoção pro dia-a-dia - com a nítida sensação de que aquela torrente de emoção que me assaltou a caminho do Alto da Boa Vista, dois dias antes, fora prenúncio do que estava por vir.
Fato é que, morando no mesmo prédio, estreitamos ainda mais os laços, seguramos as pontas, um do outro, e (citando a canção) fizemos os gols mais bonitos pela linha de fundo.
E com um detalhe: foi com ele, e com Macaco Branco (mestre de bateria da Vila Isabel), poucos dias depois, que bebi a última cerveja na rua - mais precisamente no CTI das Almas - antes do caos que nos prendeu em casa por mais de um ano.
E vamos à segunda história, que envolve Thiago - a quem conheço, como já disse, há pouco mais de 3 meses.
Estamos no dia 04 de agosto de 2021 e recebo, pelo Instagram, uma mensagem que dizia “Aqui é o Thiago, sou irmão do Fábio Matos. Só agora tomei coragem de falar com você. Me dá seu telefone?”.
É preciso abrir parêntese: Fábio Matos foi um irmão que a vida me deu. Nos conhecemos no final de 1989, começo de 1990. E convivemos até 2004, quando um acidente estúpido o levou para sempre. Éramos companheiros de muita farra, de muito Maracanã, de andanças pelo Rio atrás do Flamengo, de muita cerveja, sempre de muita festa. Por inúmeras razões (a fase da vida em que estávamos, a faculdade, o deslumbre com a vida se abrindo diante de nós…) nunca freqüentamos a casa, um do outro. O que significa dizer que sabíamos da vida, um do outro, mas não partilhávamos convívio intramuros (escrevi pra ele, por ocasião do acidente, aqui).
Em dezembro de 2004, poucos dias antes da tragédia, Fabinho (que trabalhava na CSN e estava em Volta Redonda) bateu o telefone pra mim, em tom espetaculoso, e me fez verdadeira convocação pra que fosse até a Cidade do Aço pra almoçar e jantar com ele, passar o dia conversando - há meses que não nos víamos por conta de seu ritmo de trabalho - e acabou que dormi por lá mesmo, no Hotel Bela Vista, depois de muito papo, muito vinho, muitas recordações. Despedimo-nos depois do café da manhã e - tive certeza poucos dias depois - fiquei com a nítida impressão de que ele sabia que era o último abraço.
Dezessete anos depois, a mensagem que recebi de seu irmão.
Como mostram os prints abaixo, de pronto me impressionou a semelhança entre os dois. Assim como me impressionou o relato de seu irmão, na primeira mensagem enviada pelo WhatsApp.
Fato é - vamos ao que interessa - que pouco tempo depois marcamos um almoço para que nos conhecêssemos pessoalmente, eu e Thiago. E, eis o que quero lhes dizer, eu não me vi diante de alguém parecido com o irmão, eu me vi diante de alguém assustadoramente igual ao irmão: a mesma voz, a mesma expressão, o mesmo gestual, um troço que me comoveu brutalmente no momento em que ele chegou.
Desconfiado de que eu poderia estar sendo traído pela emoção do que seria mera semelhança - e não praticamente um clone! - mandei fotos e áudios para alguns amigos do Fabinho. As reações foram pânicas: “Eu teria desmaiado se o visse na rua.”, disse uma. Outro, ouvindo a voz do Thiago, me ligou chorando. Não, eu não estava enganado.
Efetivamente que não há explicação pras coisas do coração: assim como não há explicação pro choro que tomou conta de mim naquele 08 de março de 2020, o que me fez escrever pro Simas na hora, não há explicação (para além da provocada pelo assombro da impressionante semelhança) para o tanto de afeto que também tomou conta de mim no instante em que vi Thiago, - tenho dito isso a ele - meu irmão, irmão do meu irmão.
E o que há de curioso nisso tudo, também?! Conversando com Thiago, logo no primeiro encontro, soube que um troço o ajudou a ter coragem de me procurar. Durante toda a pandemia eu e Simas pedimos uma quantidade industrial de chope e de cerveja em casa. Pedíamos chope da Noi, cujo depósito fica pertinho da Afonso Pena. E quem é sócio da empresa que armazena os barris e as garrafas da Noi e que recebe os pedidos de delivery? Thiago. “Mais de uma vez, Edu, eu mesmo recebia os seus pedidos e ficava pensando… falo ou não de quem eu sou irmão?”.
A vida é boa.
Às vezes machuca demais.
Mas é boa.
Peça Noi você também: os pedidos saem da Praça da Bandeira e chegam rapidinho em qualquer canto da cidade. Aqui, ó.
FLAMENGO X PALMEIRAS
Logo mais teremos a final da Libertadores 2021.
Por conta da postura repugnante da diretoria do Flamengo, desde 2020 que não assisto a nenhum jogo do Mais Querido.
Mas hoje não vou agüentar.
Pretendo ir cedo ao Bar Madrid pra repetir o ritual de 19: estender a bandeira sobre o balcão, pedir uma cerveja, um maracujá, preparar o coração pro tranco de logo mais.
Vamos, Flamengo!
Até.
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