Corria o ano de 2008, portanto lá se vão 13 anos, quando fui convidado por uma produtora para organizar uma exposição chamada “Bares e restaurantes - uma história no Rio” que aconteceria, meses depois, no shopping Nova América, em Del Castilho.
Meu papel foi escolher 15 bares (e restaurantes) embora o texto de abertura (imagem abaixo) mencione “quatorze estabelecimentos” - e meu nome errado, Goldberg em vez de Goldenberg - e a ficha técnica (logo em seguida) liste apenas 13 bares embora exiba meu nome certo.
Além disso, caberia a mim escrever o texto de abertura da exposição (imagem abaixo), a legenda para as fotografias e ainda escolher quem faria as fotos.
Além de ter sido divertido, ganhei um dinheirinho que nem era dinheirinho, foi uma boa grana que me permitiu contratar a Marina Couto, fotógrafa, pra vir de São Paulo pro Rio pra percorrer comigo, em dois dias, todos os bares, botequins e restaurantes que escolhi.
Um trabalho, vocês que me acompanham sabem, bastante desagradável pra um sujeito como eu.
Antes, uma curiosidade: um dos bares escolhidos, o Armazém Senado, tem lá, exibido numa das paredes, o painel, imenso, que esteve exibido na exposição.
Mas não é do Armazém Senado que quero falar hoje.
É do Bar Varnhagen.
O Bar Varnhagen, que fica numa esquina colada à praça de mesmo nome, na Tijuca evidentemente, é tão bonito - mas tão bonito! - que mais parece cenográfico.
O Bar Varnhagen fica no final da rua Jaceguai, quase chegando na praça, uma rua cheia de história. Faço breve digressão e me lanço em direção ao passado.
O jornalista Sérgio Cabral é quem diz: “A Jaceguai, 27, foi tão importante para a MPB quanto a casa de Tia Ciata foi para o samba e o apartamento de Nara Leão, para a Bossa Nova”.
Ali nasceu o MAU (Movimento Artístico Universitário), um movimento artístico-cultural dos anos 60/70 que teve como marco zero, digamos assim, o sobrado onde morava o psiquiatra (e músico) Aluízio Porto Carreiro de Miranda e sua mulher, Maria Ruth, justamente na rua Jaceguai número 27. Doutor Aluízio, como era chamado, começou reunindo antigos companheiros para saraus e a partir daí a fama de tais reuniões foi ganhando a cidade ao mesmo tempo em que baixava a idade média dos freqüentadores. Aos poucos, o sobrado foi ficando superlotado de gente que se fartava da famosa batida de maracujá feita num caldeirão servida pelo doutor Aluízio (a batida está na memória afetiva de muita gente que freqüentou aquele endereço, conheci e conheço muitos e posso atestar, como meu saudoso amigo Marco Aurélio, o MA do selo ALMA, que criou com Aldir - que era o AL da sigla, duvido que a imensa maioria de vocês que me lêem saiba disso, fazemos utilidade pública também).
Durante os saraus, que aconteciam às sextas-feiras, compositores mostravam suas músicas uns aos outros - o que Moacyr Luz também faria, 30 anos depois, em seu apartamento na rua Garibaldi.
Desse movimento nasceram os Festivais Jaceguai, do Instituto de Educação. Seus principais integrantes, universitários, foram Ivan Lins, Gonzaguinha, Aldir Blanc, César Costa Filho, Sílvio da Silva Júnior, Cláudio Cartier, Márcio Proença, Paulo Emílio, entre tantos outros. Há registros que dão conta da presença eventual de Cartola, Milton Nascimento, Guinga, Nélson Cavaquinho, Jamelão, Donga, Jackson do Pandeiro, João do Vale, Emílio Santiago, Ney Matogrosso, João Bosco e Clementina de Jesus.
Da foto abaixo, tirada na Jaceguai, 27, reconheço Gonzaguinha (ao violão), César Costa Filho (ao lado), Aldir Blanc (com um papel na mão) e Lucinha Lins (a seu lado).
Só imaginem o banzé que seria se isso tudo tivesse acontecido na zona sul. Como foi na Tijuca, pouca gente conhece as histórias maravilhosas da Jaceguai, 27.
Volto, pois, ao Bar Varnhagen.
Conheço (e freqüento) o Varnhagen há mais de 35 anos. Era capitaneado pela dona Natalina, que aparece na foto abaixo de lenço azul na cabeça. Portuguesa, temperamento forte, cuidava daquilo com um esmero comovente.
Tanto, mas tanto, que quando ela morreu, em 2013, eu deixei de ir até lá.
Anos depois, por conta das filmagens da série Botecos do Edu, fiz questão de ir ao Varnhagen. Ao lado do Leo Boechat, meu companheiro em quase todos os filmes da série, pude dizer isso à Cidália, sua filha.
É a dica que dou a quem não conhece o bar - vá conhecê-lo.
Famoso por reunir aficionados por passarinhos - o bar mantém arames do lado de fora e ganchos do lado de dentro para colocação das gaiolas -, ainda serve petiscos da época da dona Natalina (criadora das receitas) e comida no almoço da melhor qualidade. Cerveja sempre gelada e a companhia dos fantasmas da Jaceguai, 27 - não tenho dúvida disso.
A VISITA AO BAR VARNHAGEN
Nesse episódio do Botecos do Edu, visitamos o Nik Bar, o Bar Varnhagen e o Café e Bar Aldila, todos na Tijuca. Divirtam-se.
Se preferir, veja direto no YouTube, aqui.
Até.
Podemos continuar o papo (e você pode saber mais sobre mim, nessa exposição permanente que são as ~redes sociais~) no Twitter | no Instagram | ou no YouTube
Dúvidas, sugestões, críticas? É só responder esse e-mail ou escrever para edugoldenberg@gmail.com
📩 Se você gostou do que viu aqui e ainda não assina a newsletter, inscreva-se no botão abaixo e receba por e-mail, uma vez por semana, sempre aos sábados, o Buteco do Edu. E se você achar que algum amigo ou alguma amiga pode se interessar pelo papo de botequim, encaminhe esse e-mail, essa newsletter, faça correr mundo esse balcão virtual.