CARTA ABERTA PRA LUIZ ANTÔNIO SIMAS
Reproduzo hoje, sábado, 29 de maio de 2021, carta aberta que publiquei em 27/09/2013 - portanto há quase oito anos - dirigida a Luiz Antonio Simas.
A republico porque - faço a confissão - reli, dia desses, seu primeiro livro publicado pela Mórula - a editora do meu coração. E, dando busca nos meus escritos, deparei-me com ela, esta carta. E fiquei, faço nova confissão e às favas a modéstia, orgulhoso demais de já dizer, há muitos anos, o que o Brasil inteiro hoje diz, em coro, orgulhoso de seu filho, Luiz Antonio Simas.
Vamos a ela.
Simão, meu irmão, guardo, como tesouro, as primeiras palavras que você dirigiu a mim, em 18/08/2006, há mais de sete anos, portanto, aqui mesmo, pelo blog [esta carta foi originalmente publicada no blog Buteco do Edu], poucos dias antes de nos conhecermos pessoalmente, na livraria Folha Seca, apresentados que fomos pelo Rodrigo Ferrari:
“Eduardo, sou um leitor assíduo do blog, morador do Maracanã, amigo do peito do grande Rodrigo Ferrari (da inestimável livraria Folha Seca) e admirador das suas campanhas cívicas – sim, cívicas – contra as sem-vergonhices do Jota e dos Leblons da vida. Mas sempre estive em silêncio obsequioso. Hoje, porém, vou me manifestar: sensacional! Como eleitor e admirador do velho, aplaudo de pé a cena! Quanto ao Roberto Talma… nunca me enganou! Francamente… abraço.”
É como tesouro, também, meu compadre, que guardo outra de suas declarações dirigidas a mim, essa de primeiro de novembro de 2011, quando eu ainda era todo-dor:
“É uma tranquilidade saber – e digo isso profundamente comovido – que envelheceremos juntos, como irmãos que somos. Mais confortante ainda é saber que um dia, quando um de nós se encaminhar pela noite grande do Orum, o que ficar mais tempo por aqui contará e cantará dessas coisas do amor de amigos – o que permanece. Beijo.”
E lhe escrevo hoje, publicamente, e publicamente faço escancarada declaração de amor, porque fuçando, mais cedo, esses meus escritos, dei de cara com esse A força das palavras do Simas, de 13/11/2006, no qual digo que “é mais-do-que-empolgado que quero recomendar, expressamente, os dois últimos textos escritos pelo Simas, de quem tenho tremendo e quase que inexplicável orgulho.”.
E eu, hoje, tendo estado no lançamento do seu livro com o Loredano sobre o J. Carlos, tendo estado no lançamento do seu livro com o Beto Mussa sobre sambas de enredo, tendo estado no lançamento do seu livro sobre a Portela, às vésperas do lançamento do seu Pedrinhas miudinhas – ensaios sobre ruas, aldeias e terreiros, amanhã a partir das 14h justamente na Folha Seca – onde nos reconhecemos em 2006 – estou comovidíssimo, emocionado, orgulhoso.
Fuçando ainda mais minhas coisas, minha imensa memorabilia, encontrei e-mail de 05/06/2013 do Vitor Monteiro de Castro, que segue transcrito:
“Edu, tudo bem? Há tempos não nos falamos, não sei nem se lembra de mim. Certa vez foi à Maré e tomamos uma cerveja lá – e terminamos na Tijuca. Na época eu trabalhava no Observatório de Favelas. Bom, escrevo para pedir um favor: o contato do Luiz Antônio Simas. Seguinte, há dois anos saí do Observatório na perspectiva de abrir uma editora. Daí que a editora está caminhando (www.morula.com.br) e o Simas é um dos autores que a gente gostaria de publicar. Queria marcar um papo com ele para pensarmos em possibilidades. Abração.”
Breve pausa, querido: imagine você se eu não me lembraria do Vitor, que ciceroneou uma visita minha com a Dani à Maré, para conhecer o Observatório de Favelas e seu impressionante trabalho e para lá assistirmos, na rua, a um filme sobre o Chacrinha! Dá pra esquecer?!
Vai daí que eu fui tecendo uma teia, à moda da asa do vento de Luiz Vieira e de João do Vale, e fui ficando cada vez mais comovido com as lembranças, até que decidi vir desagüar aqui, publicamente, para aplacar a ansiedade (seguramente estou mais ansioso que você, você me conhece!) e pra manifestar minha felicidade pelo dia de amanhã.
Arremessei-me a 2006, quando nos conhecemos, atravessei 2007 e cheguei ao primeiro dia do ano de 2008, quando você – sábio, sacerdote, mais-velho – me deu seu ileke, que você tirou do pescoço, na esquina da Pardal Mallet com Afonso Pena, seu ileke de contas vermelhas, pretas e azuis, nós que somos filhos do mesmo pai. Cheguei ao dia de meus 40 anos e me veio sua imagem, vestido de Bangu, chegando pra feijoada que eu ofereci, trazendo nas mãos um imenso embrulho feito de jornal (lembro também da indignação da Candinha com a beleza da embalagem!), com a imagem de São Jorge Guerreiro, Ogum!, que guardava o congá do terreiro de xambá comandado por sua avó – e que hoje guarda minha casa. Lembrei-me de quantas vezes recorri a você, meu velho Simas, para que você me contasse sobre as coisas da vida, sobre os mistérios do invisível, de quantas vezes cantei, sozinho, as tuas canções – “alivia a minha dor enquanto pila o pilão” -, de quantas vezes estivemos juntos no sagrado espaço de um botequim em busca da reinvenção da vida, essa arte e essa lição que você, professor maiúsculo, domina como ninguém. Lembrei-me de tua chegada, sereno, com um Red Label debaixo do braço, na madrugada de 10 de julho de 2011, quando teu abraço foi um dos maiores antídotos que jamais experimentei: e sem que palavra tenha sido dita. Você, um sabido! Do dia em que você, reinventando a liturgia do cargo, nomeou-me padrinho-de-rua do moleque Benjamin, filho do homem que sopra no meu ouvido e que reconheço, muitas vezes, nos seus gestos (seus e dele). Lembro de tudo, Simão, e agradeço por tudo – eu na condição de aprendiz, de privilegiado, de testemunha ocular da genialidade e da potência do seu conhecimento, passado e repassado na contramão da cátedra arrogante que busca segregar, humilhar, diminuir. Você, a antítese do mestre inatingível. Você, o que ensina porque fala a língua do povo, da nossa gente, da nossa terra, do nosso Brasil. Um país mais rico porque tem você como um de seus filhos, de chinelo de dedo e copo de cerveja na mão.
Parabéns antecipado, meu irmão.
Estaremos lá amanhã, eu e a Morena, a fim de abraçá-lo e de festejar, ao seu lado, a luz e o axé que vêm da miudinha.
Amo você.
Axé.
TIJUCANISMOS
Tijucanismos é meu mais recente livro e acaba de ser lançado pela Mórula, a editora do meu coração (a repetição é proposital), com capa e ilustrações de Humberto Hermeto, prefácio de Luana Carvalho e apresentações de Luiz Antonio Simas e Juliana Monteiro.
Você pode comprar Tijucanismos aqui.
Até.
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