Nasci em abril de 1969, na rua Conde de Bonfim, no Hospital da Veneranda Ordem Terceira da Penitência, de frente pro Morro do Borel, num domingo - enquanto Deus descansava.
Minha primeira morada foi na rua Barão de Mesquita 48, na Tijuca - e aqui escrevi um texto sobre esse endereço.
Poucos anos depois - eu ainda bebê - mudamos para o sexto andar do Edifício Jureva, na São Francisco Xavier 90.
Mais tarde - daí já me lembro da mudança - fomos para o segundo andar do mesmo prédio.
Prédio que ficava ao lado do que era o meu paraíso: a vila - que tá viva, ainda, lá - no número 84 da São Francisco Xavier, onde moravam meus avós maternos, minha bisavó e sua irmã. O mulherio, o matriarcado, que permeou toda a minha infância.
E mais à frente para o número 359 da Professor Gabizo, quase esquina com a General Canabarro.
Tudo na Tijuca.
É bem verdade que morei durante 5 anos - os mais modorrentos da minha vida - na Lagoa. Mas durante esses 5 anos passei mais tempo na Tijuca - em seus botequins ou na casa dos amigos - do que na Lagoa (o que seguramente contribuiu, e muito, pra iminência da separação que veio em 1999).
Depois desse traumático período, tornei a morar na Tijuca - na rua Haddock Lobo.
Faço breve digressão para dizer que, exageros à parte, não foi de todo mal o período (de 1994 a 1999) na zona sul da cidade. Eu ancorava com intensa freqüência no Mistura Fina, no Bar Lagoa, no Castelinho da Lagoa, enfim… há esse hiato importante de registrar.
Voltando.
Depois da Haddock Lobo, onde plantei um Pau-Brasil, e desde 2015, na rua Martins Pena - sede de Maison Goldenberg & Piana -, de frente pra praça Afonso Pena - na Tijuca, é claro. Onde estão enterrados o umbigo e a placenta de nosso único filho, Leonel.
E já que falei no umbigo e na placenta do piá, faço breve ilustração sobre isso.
Eis o que escreveu - o que muito me honrou - Juliana Monteiro na contracapa de Tijucanismos.
“Da grande árvore genealógica da família de Edu Goldenberg — que mais parece um ‘Cem anos de solidão’ tijucano —, saem as hilárias crônicas que acompanham o autor da infância até o nascimento de seu filho Leonel (como Brizola, não como Messi, disse ele uma vez em um samba na Ouvidor em homenagem ao Aldir). O umbigo do menino foi plantado na praça Afonso Pena (!!!), e talvez nada no mundo possa ser mais tijucano que isso.”
E já que falei em Tijucanismos, permitam-me o reclame: o livro está à venda aqui.
Voltando.
Eis o que queria lhes dizer desde o início: estou saindo da Tijuca - mas nem tanto.
Copacabana - nosso próximo pouso - é (e eu digo isso há muitos anos!) a Tijuca com maresia. Seus inúmeros (e fabulosos!) botequins, um mar de cabeças brancas, viúvas a rodo, uma burguesia conservadora ao extremo, diversos bairros dentro do próprio bairro e todas as lendas que cercam a praia mais famosa do mundo fazem de Copacabana um bairro que me é, antes mesmo de meu pouso, muito familiar.
MUDANÇAS
Uma amiga muito querida, ao saber por mim da mudança através de pequeno podcast privativo, escreveu-me:
“[16:08, 06/01/2023] : Você vai para Copacabana. Não é logo ali, sabemos bem. Haverá nova rotina, novos lugares de sempre. Eu escutei novamente e feliz pelo recomeço que essa mudança significa. E também por saber que você, mais que ninguém, sabe fazer casa onde estiver. No fim, a Tijuca acontece em você.
[16:08, 06/01/2023] : (e sempre estará lá fisicamente)
[16:08, 06/01/2023] : Eu penso na sua despedida e imagino litros de choro, amigo.”
Exageros à parte, acho que sei mesmo fazer casa onde quer que eu esteja.
Aproveitando as idas e vindas ao apartamento - que passa por pequenos ajustes - dei de mapear a área: já sei onde fica o ponto do jogo do bicho mais próximo, já fiz amizade com o guardador da rua (que tem as chaves de todos os carros parados naquele trecho), já elegi minha barraca na praia, já tenho um pé-sujo à moda CTI das Almas pra chamar de meu na esquina de casa, já anotei todos os telefones importantes da região (depósito de bebidas, de gelo, farmácias, padarias…) e assim, ao poucos, vou me reconhecendo por onde passo.
Já fiquei parceiro dos porteiros e um deles atende pela alcunha de Bigode - como o porteiro do edifício Jureva.
Um de meus lugares preferidos pra comer no Rio - meu dileto amigo Julio Bernardo também adora -, o Braseiro, fica a 150 metros de casa.
E também a praia, é claro (a foto abaixo é minha), fica a menos de 250 metros do Chatô G&P.
Se tem um hábito que sei que vou incorporar ao cotidiano, é a ida à praia.
Sai a praça Afonso Pena - mais bonita que o Central Park -, entra o Posto 4.
Perco os vizinhos mais legais do mundo: Candinha e Simas - e o moleque Benjamin. Vou sentir muita saudade de descer de elevador e, quatro andares abaixo, ser recebido pelo dois. Ou de ouvir a campainha sem aviso prévio pra dar de cara com Simão abraçado a duas garrafas de vinho.
Vou sentir saudade dos fantasmas que flanam pela Tijuca - meu avô Oizer, minha bisavó Mathilde e minha avó, com o mesmo nome. Meu tio Beneval, meu tio Hique, vou sentir saudade do Raul, do Roberto, do pé de biribiri que trouxe de Salvador e que está plantado na praça, da amoreira que se alimenta da placenta do Leonel, do Roberto Carlos e do Luiz, os meus apontadores do jogo de fé, da Igreja dos Capuchinhos (onde fui batizado), do pé de Pau-Brasil que plantei, da rua do Matoso a poucos passos de casa e da feira da Vicente Licínio, de Mariana e de Marília, vizinhas de rua.
Acho, mesmo, que vou chorar um bocado na hora do tchau.
Mas não há de ser nada.
Nossa casa nova há de ser festa pra quem a gente ama.
BARREADO NA INAUGURAÇÃO
Não tem nada definido.
Mas já tô me coçando pra abrir as portas da casa nova com o IX Barreado de Morretes - uma tradição que começou em primeiro de dezembro de 2013, ainda no apartamento da Haddock Lobo (leiam aqui). O VIII, o último Barreado de Morretes que fizemos, foi em 07 de novembro de 2021.
Não há jeito mais genuíno de eu dizer o quanto gosto de alguém que não seja cozinhando. Fiz o primeiro, em 2013, por amor. E de lá pra cá fomos construindo essa tradição de abrir a casa pros mais chegados. Foram oito até agora.
O nono há de ser logo.
Não vejo a hora de sentir a casa invadida pelo cheiro da maresia misturado ao cheiro de cominho - ao cheiro de Morretes! - e de servir aos amigos e às amigas que lá estarão esse prato típico do Paraná e que tanto amo (fazer e comer).
CAÇADOR
Sentirei, também, aguda falta do Caçador.
Não apenas às segundas e terças, quando o bom chope do lugar é servido a R$ 4,50.
Mas do icônico restaurante que Leonel tanto adora.
Provando que puxou a mim, ele me perguntou em tom triste na semana passada:
— Papai… tem Caçador em Copacabana?
— Não tem, filho…
Senti uma ponta de orgulho do moleque.
Ainda não tem 5 anos e já está apegado à aldeia.
Gosto demais de perceber isso.
Eu disse:
— Lembra daquele lugar em Copacabana onde comemos linguiça com farofa que você adorou?
— Lembro! - os olhinhos já brilhavam de novo.
— Então… é o Braseiro. Não tem aqui na Tijuca, só tem lá. O Caçador só tem aqui, não tem lá.
— Eu gosto dos dois. Mas quando eu sentir saudade você me traz pro Caçador?
Ah, o Leonel.
É muito mais do que sonhei pra mim.
FELIPINHO, SUBPREFEITO DA TIJUCA
Lá se vão mais de 30 anos que conheço o Felipinho.
Recentemente foi nomeado Subprefeito da Grande Tijuca pelo prefeito Eduardo Paes - mais um golaço seu.
A grande blague na região é que estou me mudando da Tijuca justamente pra não ser governado pelo galego.
Outra - de autoria do Simas - diz que o Bar Madrid é a Sede Campestre da Subprefeitura.
Piadas à parte, tô feliz demais com a nomeação do Felipinho.
Um cara leal, corretíssimo, um autêntico galego no trato.
Mais que isso: um sujeito perdidamente apaixonado pela cidade, pelo bairro do Rio Comprido, pelo bairro da Tijuca, pelas mais ferrenhas tradições cariocas.
Vou morrer de saudade, também, é claro, do Bar Madrid a menos de 10 minutos a pé de casa.
Encerro por hoje prestando essa homenagem a esse grande cara que é o Felipinho, na foto abaixo entre o Simas e eu - curiosamente tirada no Bar Rio Brasília, justamente o bar que ele comprou pra transformá-lo no Bar Madrid.
Arrebenta, Felipinho!
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