VASTAS EMOÇÕES
Meu filho - lhes contei isso na semana passada, aqui - fez 4 anos na última terça-feira e a terça-feira (assim como o sábado passado, quando fizemos sua festinha) foi um dia de fortes emoções. Sou um homem que gosta de aproveitar as emoções que a vida proporciona e monto, sem cerimônia, a cama para que as emoções me façam companhia e delas eu possa extrair o que há de mais bonito, o que há de mais emocionante, o que há, por que não?, de mais doído se for o caso.
Eu sabia que na terça-feira meu filho nasceria de novo porque, me conhecendo, eu sabia que sentiria e reviveria as emoções da manhã, da tarde e da noite do 31 de maio de 2018. Edu, vem aqui, o lençol tá molhado, não tem cheiro de água sanitária (foi a lição da obstetra na última consulta), tem cheiro de iogurte, liga pra Fernanda, acompanha, acompanha, tá vazando, opa, agora sim!, cheiro de água sanitária, corram pra maternidade. Corremos. De mãos abanando. E de lá só saímos com Leonel, nosso maragatinho, muito mais do que sonhei pra mim.
Leonel tá no processo do desfralde - outra emoção, um passo à frente, crescendo a olhos vistos e esse desejo permanente de mantê-lo no colo, de fungar seu pescoço, de beijar-lhe os pés, de chorar diante de tanta beleza em estado bruto que a paternidade me trouxe.
Pausa: a foto abaixo é de 17 de março de 1970 - eu tinha pouco menos de 1 ano e estou entre as pernas de meu pai. Tinha acabado de cortar meu cabelo pela primeira vez no Salão América, com o Raul. Estávamos na praça Afonso Pena, onde vivemos hoje - ao lado do mesmo salão. Conto breve história mais à frente sobre isso.
Em 2011, viúvo, eu tinha pouquíssima certezas: de que morreria viúvo e sem filhos.
Meu filho fez 4 anos na última terça-feira e eu agradeço permanentemente à vida pelo encontro, surpreendente, com a Morena - a mulher que poria por terra as pouquíssimas certezas que eu tinha em 2011.
A vida tem sido assim, e tem sido assim desde 1969, e eu acho graça, de verdade eu acho graça (embora, confesso, concordando com ela) quando uma amiga muito querida me diz que tem gente que vive 100 anos sem conhecer de perto 10% das emoções que eu já experimentei.
Já fui e já voltei, algumas vezes, pro mais fundo.
E sigo assim.
A vida me apresentando novidades, eu as encarando com desejo de vivê-las, insistindo - apud Aldir Blanc - na juventude.
Tenho, repito e reitero, muita saudade.
Sou, a cada dia mais, um homem acumulado de saudade.
RAUL E LEONEL
Eu, um homem de ritos, desde que Leonel nasceu, dizia pra Morena:
— O primeiro corte de cabelo dele vai ser com o Raul! Com o Raul!
E até 08 de janeiro de 2019, ele com pouco mais de 7 meses, eu repetia essa frase com insistência de prestamista:
— Amor meu, não esquece. O primeiro do corte de cabelo do Leonel vai ser com o Raul. Igual a mim!
Morena bufava - já não agüentava mais aquela ladainha.
Antes de colocá-lo pra dormir no dia 07 de janeiro, estávamos jantando picadinho com purê de batata quando ela disse:
— O cabelinho dele tá enorme!
Comecei a chorar. E disse, trêmulo:
— Eu o levo amanhã cedo ao Raul!
Flávia disse:
— Tá.
Pensei de mim para mim: ela não está empolgada, estará antevendo algo de ruim?
Dormi excitadíssimo.
E às sete e meia da manhã estava eu com Leonel pronto pra descer. Eu já tomei o elevador chorando. Estaquei diante do CTI das Almas, Roberto abrindo a birosca, e ele foi fino como sempre:
— Tá chorando por que, porra?
— Ele vai cortar o cabelo agora, pela primeira vez…
— Ah, não fode. Bebe um negocinho aí pra se acalmar.
Bebi um trago de conhaque.
Senti o coração mais ritmado.
Raul me viu, sentiu o clima, me deu um abraço, pagou mais um conhaque pra mim, entramos no mesmo salão que me viu cortando o cabelo pela primeira vez com pouco mais de 10 meses de idade.
Pus Leonel sentando na Ferrante - vá saber se não foi ali que me sentei, papai jura que sim, Raul também - e eu guinchava de tanto que chorava.
A cada movimento da tesoura, a cada visão do sorriso do moleque, Raul deu de chorar durante o corte, eu era mais e mais arremessado em direção ao passado, eu tinha quase a mesma idade do maragatinho e pequena multidão de conhecidos, chamados pelo Roberto - taxistas, o pipoqueiro, o apontador do jogo do bicho - juntou-se na calçada em frente pra acompanhar aquela cerimônia, aquele batismo pagão, aquele pai emocionado diante do filho cortando o cabelo.
Raul não me deixou pagar pelo corte, Roberto me ofereceu uma caipirinha, subi o elevador com ele no colo ainda chorando, mal pus a chave na porta e dei de cara com a Morena tomando café na mesa da cozinha. Ela se levantou sem pressa, tomou Leonel das minhas mãos, fez uma festinha no meu rosto, percebeu minha emoção, agarrou Leonel bem forte e deu de chorar também. A princípio baixinho, o choro foi ganhando corpo, volume, ela deu de soluçar e eu a abracei por trás:
— Ô, amor… emocionada também?
— Não.
— Tá chorando por que?
E a resposta veio entre os soluços:
— O cabelo dele tá uma merda, Edu. Ficou uma merda. Nunca mais, entendeu? Já cumpriu seu ritual, não cumpriu? Nunca mais!
NOI
A newsletter segue com a parceria com a Noi, a mais carioca das cervejas - a despeito de ter nascido em Niterói.
Já lhes fiz a confissão e a repito: eu e Simas usamos e abusamos do delivery da Noi durante o dificílimo ano de 2020 e em 2021.
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