edição especial de final de ano número 28 - newsletter Buteco do Edu
Prezadíssimo leitor, prezadíssima leitora, vocês jamais me verão escrevendo ou dizendo prezadíssime leitore: a edição da newsletter que você acaba de receber é a vigésima oitava dirigida exclusivamente aos assinantes da Buteco do Edu, sendo que os assinantes que pagam pela assinatura têm acesso integral ao conteúdo (que palavrinha desgastada e mal usada…) - e se você ainda não se decidiu por assiná-la, peço que considere fazê-lo por incontáveis razões que vão desde o gesto de prestigiar o autor, até o valor irrisório da assinatura. Esteja certo: é um gesto bonito assinar a newsletter de quem você curte ler, prestigiá-lo.
Se o e-mail que recebi da plataforma Substack está certo, há, no alto dessa edição, um link que permite que você presenteie alguém com uma assinatura da Buteco do Edu. Vá, é um presente original. Considere fazer isso.
E mais um pedido: se você já é assinante dessa modalidade e se estiver gostando do que tem chegado até você toda semana, faça correr esse link, faça propaganda da newsletter, convença alguém que goste de ler a vir para cá e a assinar a Buteco do Edu. É só clicar aqui ou no link no final desta edição. O valor, repito, é irrisório, e a demonstração de prestígio não tem preço que pague.
Esta edição é, também, a última do ano de 2024.
E está totalmente liberada para todos os assinantes, os que pagam e os que não pagam: é meu humílimo presente de Natal a todos vocês.
E desejo, por fim, que o Natal de todos seja significativo, e que você esteja cercado de gente que te faz bem. E que 2025 seja melhor do que esse 2024 que vem chegando ao fim, um ano que marcou, para mim, uma guinada muito intensa na minha vida. Felicidades a todos!
E divirtam-se.
NATAIS DE OUTRORA, O NATAL DE HOJE
Essa senhora da fotografia abaixo - vê-se que é a foto da foto, eu não a tenho - é Mathilde Veloso Monteiro de Barros, minha bisavó materna, minha maior saudade. Essa fotografia foi tirada no apartamento 602 do edifício Jureva, na rua São Francisco Xavier 90. A Bia está usando o avental que usava todos os anos no dia 24, quando ia à cozinha ajudar na preparação da ceia que reunia grande parte da parentalha (quase todos mortos) na casa de meus pais.
Dá-se sempre o mesmo quando bato os olhos na imagem da minha bisavó: sinto o cheiro de alfazema que se mistura com o cheiro do talco, o frescor de suas pastilhas Garoto, a maciez de sua pele, o som de sua voz e de seu pigarro, sua fé inabalável e seu colo, o lugar mais acolhedor do mundo para o menino que fui. Estou longe de ser um menino hoje, aos 55 anos de idade, mas continuo sentindo falta dela e de tudo o que ela significou durante os 13 anos de convívio comigo.
Faltava uma semana para o Natal de 1982 quando ela dormiu para nunca mais acordar.
E desde então nunca mais houve noites de Natal como aquelas.
Com seu desaparecimento, ela que foi matriarca in totum, a parentalha se dissipou e o meu Natal passou a reunir apenas meus pais, meus dois irmãos, meus avós maternos, e com o passar dos anos, com a morte deles dois (primeiro ele e depois ela, em 2010), apenas o que podemos chamar de núcleo central - meus pais e os três filhos.
Com o avançar dos anos, o mais novo muda-se para Paris e do mais velho eu sequer tenho notícia.
Em 2018, entretanto, quando nasceu aquele que é muito mais do que sonhei pra mim - Leonel -, as noites do dia 24 e o almoço do dia 25 voltaram a ter a cor e o brilho que conheci quando menino (embora, digo em nome da verdade factual, nem a chegada do piá tenha sensibilizado aquele a quem, num movimento raro, mencionei há pouco).
O texto publicado abaixo, na sessão Das prateleiras do Buteco do Edu, dá pistas do que aconteceu, embora isso não interesse a ninguém além de mim, que vou plantando meus registros para o além.
Fato é que no dia 24 estarei nos Alpes Tijucanos, onde moram há 30 anos os meus pais: eu, eles dois, a família que escolhi - Leonel, sua mãe com a companheira e com o filho, sua avó materna, que vem de Morretes pra passar o Natal, e lá brindaremos verdadeiramente ao que chamam o Espírito do Natal. Nooooossa, como vocês são modernos!, gemem muitos por aí. Somos.
Mas isso, essa capacidade de amar lato sensu, não apaga a inevitável melancolia que me toma de assalto quando vem chegando o final da tarde do dia 24.
Eu queria minha bisavó de volta.
20 ANOS SEM FÁBIO MACHADO DE MATOS
No dia 06 de dezembro, uma sexta-feira, foi inevitável lembrar (até porque a data está na minha agenda desde o fatídico dia): há 20 anos morria Fábio Machado de Matos, um amigo que perdi de forma trágica quando eu tinha apenas 35 anos de idade.
Éramos, eu e Fabinho, amigos, cúmplices, confidentes, e foi isso o que escrevi no dia seguinte à tragédia:
“Doces figuras, um acidente estúpido, como são os acidentes, levou embora ontem, pra sempre, um grande parceiro meu, Fabinho.
Conheci o malandro há muitos anos, nós dois procurando estágio, fomos de cara um com a cara do outro, o Flamengo nos serviu de amálgama, no tempo em que o Flamengo era um time vencedor.
E fizemos tantas merdas juntos, numa equação que misturava o futebol e as mulheres, o futebol, as mulheres e a bebida, mas tanta merda, que nem 100 anos serão capazes de apagar o sorriso do cara de dentro de mim.
Não é possível não citar o Aldir, nem é possível não dizer de novo que é ele, Aldir, meu porta-voz numa porrada de coisas: é na saudade que tudo o que amei sobrevive.
Fabinho casou, teve dois filhos, tornou-se um vencedor no mercado de trabalho, e tudo isso era tão incompatível com os roteiros que vivemos juntos, que estávamos afastados fazia tempo – isso se levarmos em conta o quanto éramos quase unha e carne há alguns anos.
Nos limitávamos a alguns telefonemas e e-mails, com as nossas histórias sempre como pano de fundo. E ríamos muito, e chorávamos muito, e nos divertíamos muito nesses poucos momentos.
Eternizados em mim.
Poucos dias antes do acidente – o que dá um tom ainda mais bonito pra história que construímos – fui, a convite e a pedido dele, passar o dia com Fabinho em Volta Redonda.
Bebemos. Conversamos. Choramos de emoção, de saudade do que vivemos, rimos de chorar, e – é a bruta certeza que tenho cravada em mim – nos despedimos na manhã do dia seguinte com um abraço tão demorado que, parece, sabíamos ser o último.
Sou eu me acumulando de saudades. Um beijo, malandro.
Até.”
Anos depois, muitos anos depois, cruzei caminho hoje com Thiago Machado de Matos, sósia do irmão!!!!!, como lhes contei aqui.
A vida, meus poucos mas fiéis leitores, é uma tecelã surpreendente.
Há anos que não o vejo mais.
Hoje, num átimo de segundo, cruzamos caminho novamente.
Seu irmão, morto, teria sido mais expressivo do que ele.
Volto ao tema.
E vamos em frente porque há uma campanha que quero que vocês todos conheçam!
AJUDAR UMA LIVRARIA A NASCER É AJUDAR A CIDADE A SEGUIR VIVA!
Quem gosta de livros sabe o que significa ter um livreiro, sabe o impacto que isso provoca na vida do leitor. Infelizmente é uma profissão em desuso porque está cada vez mais difícil manter uma livraria por conta da selvageria das grandes corporações que vão engolindo tudo sem que percebamos e, o que é pior, com a nossa conivência. Como ocorre com tudo em que metem as mãos, os bilionários também prejudicaram demais o já combalido mercado editorial brasileiro.
Mas há os que bravamente insistem e não há quem discorde: as livrarias de rua são verdadeiros pulmões da cidade e são fundamentais na tarefa hercúlea de arrancar, uma a uma, dia após dia, as flechas do peito do meu padroeiro.
No Rio de Janeiro temos o privilégio de contar com a Folha Seca, a Casa da Árvore, a Belle Époque, para citar apenas três. Cada uma a seu estilo, todas com curadoria finíssima e um atendimento personalíssimo. Mas eis o que quero lhes falar.
Há espaço para mais e é aqui que quero pedir sua atenção.
A Pulsa é uma livraria itinerante criada pela Carol em 2022. E sua proposta é claríssima: focar em narrativas e autorias de pessoas LGBTs.
E me permitam: você não sabe que precisa dessa curadoria e desse atendimento até o dia em que dá de cara com o trabalho da Carol.
Mais do que expor o gênero ou a orientação sexual dos autores e personagens, ela realiza um trabalho de pesquisa cuidadoso que traz à tona histórias, escritores, editoras que usualmente têm pouco ou nenhum espaço nas prateleiras virtuais. É sempre uma descoberta comprar livros com ela.
Como lhes disse, a livraria é itinerante mas precisa deixar de ser.
Chegou a hora da Pulsa ter uma lojinha no Rio.
A Carol lançou uma campanha de financiamento coletivo que começou muito bem, mas ainda falta um tanto para chegar lá. A livraria, a livreira e os livros lá vendidos são, creiam, a cara do Rio de Janeiro.
A campanha já juntou um pessoal do borogodó. Tem livros autografados do Luiz Antonio Simas, personagem freqüente desta newsletter; serigrafias do Andre Dahmer; recompensas doadas pela cantora Letrux e mais, muito mais.
Dá, inclusive, para adquirir um vale-compra para usar na livraria depois.
Enfim, está redonda a oportunidade: é hora de mais uma livraria de rua no Rio de Janeiro e podemos ser, todos nós, um pouco responsáveis por isso.
Você ajuda aqui!
DAS PRATELEIRAS DO BUTECO DO EDU
Em 15 de dezembro de 2014 publiquei Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel, aqui. Eis o texto, republicado por razões óbvias. É, afinal, chegado o tempo do Natal:
“Durante muito tempo – faço a confissão, nunca tardia – eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel. Contam as lendas de família – que é enorme!, aqui há muitas histórias da família – que eu sempre tive, entretanto, medo do Bom Velhinho. Nasci em 1969 e evidentemente não me recordo da minha primeira noite de Natal, tampouco me recordo da primeira lembrança que tenho da primeira noite de Natal que a memória algum dia guardou. Lembro-me, entretanto, de muitas noites de Natal até 1981, último Natal da minha bisavó (sobre quem escrevi aqui, em maio de 2004). Minha bisavó, jeito e porte de matriarca, mãe de seis filhos (quatro homens e duas mulheres), sempre manteve a família unida nas chamadas grandes datas: na Páscoa, no Natal, nos aniversários de cada um. O Natal (é do Natal que quero lhes falar) era para mim, sobretudo, a festa máxima que ela, minha bisavó, proporcionava à família. As noites de Natal eram passadas na casa de meus pais (primeiro na São Francisco Xavier 90 – no 6º e depois no 2º andar – e depois na Professor Gabizo). Mamãe mantinha uma tradição, bem me lembro, de montar um presépio bem simples e à meia-noite, pouco antes da ceia, a criança mais nova da casa punha o Menino Jesus na manjedoura. Mamãe rezava, fazíamos a troca de presentes, e até a fantasia manter-se viva em mim, eu ia dormir à espera do presente da manhã seguinte – o presente era, já lhes disse isso aqui, o menos importante.
Seguramente, um Natal semelhante ao de milhões de famílias – mas era o meu Natal, era a minha família. E como todas as famílias do mundo, uma família com conflitos, uma família com diferenças abissais entre seus membros, uma família que, apesar dos pesares, reunia-se na noite de 24 de dezembro, no almoço de 25 de dezembro, em torno daquela que era a mais-velha, era a mãe, era a avó, era a bisavó, sem que ninguém visse, naquela reunião, naquela festa!, qualquer sinal de hipocrisia ou fingimento. Lembro-me de minha bisavó, de sua irmã, de meus quatro avós, de meus tios, de meus primos, uma família, como disse acima, enorme… e que nunca mais reuniu-se no Natal na noite de 24 de dezembro depois de dezembro de 1982 quando, a sete dias do Natal, minha bisavó dormiu pra nunca mais acordar.
A família, enorme – repito de propósito -, partiu-se em sei lá quantos ramos: já não havia mais a âncora, já não havia mais minha bisavó. E minhas noites de Natal nunca mais tiveram a mesma graça – já não havia mais minha bisavó, a mulher-símbolo da família que me originou do lado materno. Eram, entretanto, noites de Natal. E eu as passava com minha família: meus pais, meus irmãos, meus avós (até que vovó, por último, morreu em 2010, ela também pouco antes do Natal), e se não estava com eles no dia 24, por incontáveis razões, no dia 25 lá estava eu para celebrar, ao lado deles, a data que sempre me foi tão marcante.
A foto abaixo, de 1969, tirada na Vista Chinesa poucos meses depois do meu nascimento, mostra papai de olhos em mim, mamãe de olhos em meu pai e eu, ainda filho único, dormindo o sono dos justos. De lá pra cá, 45 anos se passaram.
A família encolheu, meus propósitos não.
E como lhes disse em 2009:
“Sem qualquer intenção de fazer proselitismo, evidentemente, desejo a vocês todos, meus poucos mas fiéis leitores, uma noite de Natal profundamente significativa. Desejo, mais, que todos se sintam dispostos, ao menos nesses dias, ao exercício de estender o olhar à sua volta. Esse olhar estendido mostrará a vocês, seguramente, alguém precisando de muito pouco para ter um dia ou uma noite melhor. Esse olhar estendido fará com que você vivencie, ainda que seja apenas com os olhos, a experiência do outro, quem sabe capaz de transformar sua própria vida. Esse olhar estendido possivelmente dará a você a dimensão exata da fraternidade, se você tiver olhos de ver e ouvidos de ouvir.
Que tenham todos uma noite de paz, com a família, com os amigos, com gente querida, que haja muita saúde, que haja muita esperança, que haja sobretudo muita coragem para os enfrentamentos diários que a vida exige.
Sejam vocês cristãos ou não, creiam ou não em Deus, tenham todos um Feliz Natal. Eu, brasileiríssimo no que diz respeito à escolha da religião (é tudo na cumbuca e sou feliz desse jeito!), desejo que a noite de hoje seja tranqüila, seja simples, seja renovadora, significando verdadeira comunhão de propósitos capazes de dignificar sua vida.”
Hoje mesmo, marcando a ceia de Natal com mamãe para a noite de 19 de dezembro (viajamos, eu e a Morena, no dia 20 para só voltarmos dia 28 à noite), ela me disse antes de desligar (e algo me diz que depois de um arranco em direção ao passado):
– Que nosso Natal dure o ano inteiro!
Eu, que há muitos anos não creio mais que somos todos filhos de Papai Noel, que não tenho mais sequer essa ilusão – a de ter um Natal durando o ano inteiro -, quero apenas poder viver e conviver com gente que se satisfaça, e que não se incomode, com a harmonia, e que não veja a destruição da imagem do Bom Velhinho como objetivo de vida, lato sensu. A vida, meus poucos mas fiéis leitores, já é farta demais em desilusões.
Até.”
LIVROS (A HORA DA JABALÂNDIA)
Publiquei poucas coisas até hoje.
Mas publiquei.
Meu lar é o botequim, que está esgotado*, foi o primeiro (mentira, tenho vergonha do primeiro e por isso eu o omito), lançado em dezembro de 2005. Pode ser comprado só em sebos (aqui) - tenho apenas um exemplar novo em folha e que estou aqui pensando como posso sortear.
De hoje não passa, escrito a quatro mãos (uma troca de cartas) com Julio Bernardo (aqui).
E Tijucanismos, aqui.
Uma ou outra coletânea… e olhe lá.
Vamos a um spoiler: ano que vem lançarei Meu lar é o botequim, edição de 20 anos. Revisto, reescrito, mas com o mesmo espírito que norteou o lançamento em dezembro de 2005.
UMA DICA DE PLAYLIST
Quero indicar a vocês, meus poucos mas fiéis leitores, uma das playlists que montei no Spotify - Rio de Janeiro - que já conta com 190 seguidores, 58 músicas, 3 horas e 30 minutos de som.
Ela será permanentemente incrementada (e eu aceito sugestões que podem ser enviadas por e-mail!).
Ela está aqui ou, se preferir, ouça já! - abaixo.
A referida playlist deve ser ouvida no modo aleatório e, repito, está longe de estar definitivamente pronta. Assim como eu.
Até.
Podemos continuar o papo (e você pode saber mais sobre mim, nessa exposição permanente que são as ~redes sociais~) no Twitter | no Instagram | ou no YouTube
Dúvidas, sugestões, críticas? É só responder esse e-mail ou escrever para edugoldenberg@gmail.com
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Edu!
Que o menino, o pequeno Edu, te traga por um instante que seja, a magia dos teus natais mais bonitos!