PRESENTES IRRETRIBUÍVEIS
ou as surpresas que colorem os dias
edição número 32 - newsletter Buteco do Edu
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Divirtam-se.
PEQUENAS CONFISSÕES
Recebi de uma de minhas poucas mas fiéis leitoras, assinante desta newsletter, o seguinte comentário sobre o texto da semana passada, Família, família, família, que pode ser lido aqui.
Antes de transcrever a mensagem, faço questão de dizer: gosto desses movimentos que fazem com que os que me lêem cheguem até mim, e posteriormente vice-versa. Gosto de saber o que provoco, o que evoco, gosto de saber que, a despeito de eu escrever precípua e primeiramente para mim, sou lido (e cada vez mais lido, com a graça dos deuses). Vamos ao que me disse a leitora a que aludi:
“É consolo e vertigem.
´Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira´.
Se, no escritor russo, a ênfase está na segunda parte da sentença - o poder hipnótico das histórias tristes, o anúncio do drama, o carioquíssimo Eduardo sabe que é na festa que os mortos - e os bem vivos - falam. É no prazer que extrapola o proibido, é na mesa posta pro banquete que se deixam ver os ingredientes perdidos.
Nascimento dos filhos, aniversário do pai, festas de família: ´lasciate ogne speranza, voi ch'entrate´ é o que escuta Eduardo como eco cada vez que começa um ´parabéns pra você´.
Porque de histórias e de famílias tristes vive o analista. Nós, leitores, queremos os objetos inocentes que nos matam.
Teu texto, Edu, está muito bom.
No livro que li, o desamor e o ódio chegam nas primeiras páginas, sem prefácio. Está ótimo, bem escrito, bom mesmo, mas é um aviso para o leitor: se começou assim, só pode melhorar.
Na tua crônica, o jogo é outro: o inferno ali nas frestas, nos ´te adoro´, nos ´olha o que eu trouxe pra você!´
E sem perder o amor.”
Fez, o citado texto, estrondoso sucesso.
Por isso, de certo modo, até porque tenho mais para falar de mim para mim sobre o assunto, avanço um pouco mais sobre o tormentoso tema.
A leitora, a mesmíssima leitura, fez questão de me dizer qual seu trecho preferido. Esse aqui, ó:
“Meninote, adorava perceber as tramas que envolviam a parentalha. Os ardis. Os disse-me-disse. As intrigas. As futricas. As traições. Os adultérios. As relações afetuosas que eram rompidas como barragem, o amor dando lugar ao ódio, o amor dando lugar ao desprezo, ele morreu para mim, pus uma pedra em cima disso, não quero falar sobre esse assunto, a tia mais querida que de uma hora para outra era promovida à falsa, traidora, não quero mais ver nem pintada, os amigos que chegavam como irmãos e que eram postos para fora do círculo num átimo de tempo, e os enredos envolviam separações, uma filha bastarda, tráfico de jóias, irmãos que não se falavam (oh!) ou que se viam (quando muito) uma vez por ano no aniversário dos pais, a vida como ela é em estado bruto, sem maquiagem, o que me é muito mais suave agora, quando estou com 55 anos, do que nos meus tempos de short curto e camisa de malha listrada.“
Reler isso agora trouxe à tona uma cena, um enredo, uma historinha que ouvi dezenas, centenas, milhares de vezes - e aqui não interessa de quem ouvi.
A seguinte: as primas eram mais unidas que unha e carne, era o que dizia sempre o renque de velhas enquanto farfalhavam seus leques nas salas das calorentas casas em que se reuniam.
Faziam tudo juntas, tudo.
Até que em determinada época, era exatamente o que contavam as velhas com olhos arreganhados denotando o susto pânico, uma delas (era essa a expressão usada!) subiu na vida. E passou a humilhar a outrora prima próxima de forma contundente e implacável.
Hoje vamos jantar naquele restaurante à beira-mar, em Copacabana, sabe qual é?, provocava a nova-rica. Não, não sei, a resposta vinha em tom menor. Pois a tal subia nas tamancas, abria um sorriso de zebra exibindo seus quinhentos dentes e dizia gargalhando como uma Maria Padilha: não é pro teu bico, por isso nem chamo vocês.
Vocês porque já eram, as duas primas, casadas.
Começaram a namorar e se casaram vivendo unidíssimas. Faziam os mesmos programas, iam juntas à Gerbô, aos cinemas da praça Saenz Peña, compravam roupas na Braseiro Modas, até que uma delas (repito de propósito) subiu na vida.
Para tanto, me lembro perfeitamente da bolsa de apostas das mais-velhas, se valia (o casal) de meios não muito lícitos ou católicos, como preferiam as fanáticas religiosas.
Anos depois, o negócio ruiu.
Tentou, a então ex-rica, se reaproximar da prima que tantas vezes humilhara.
Comigo não, violão!, era o que ela sempre ouvia diante das tentativas de reconciliação.
E isso ia criando um clima de flaxflu na parentalha.
Havia a banda que tomava partido de uma, a banda que tomava partido de outra, e havia a banda que fazia ouvido de mouco e fingia que nada acontecia.
Volto, como sempre, ao tema.
PRESENTES IRRETRIBUÍVEIS
Se tem um troço do qual não posso me queixar é isso: ao longo da vida, até aqui (a poucos meses de completar 56 anos), ganhei presentes de gente querida que, desde há muito, identifico como irretribuíveis. O texto que publiquei em 2006 e que vai transcrito na seção Das prateleiras do Buteco do Edu mais abaixo não me deixa mentir.
Pois vamos ao que quero lhes contar - sobre o últimos presentes irretribuíveis que ganhei.
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