Dei início, na semana passada, a uma campanha em busca de angariar assinantes dispostos a pagar - um valor, convenhamos, irrisório - para ter acesso na íntegra à newsletter (que continua chegando inteiramente grátis todos os sábados, mas por pouco tempo).
Estamos falando, meus poucos mas fiéis leitores, de (para quem optar pela assinatura anual) um valor de R$ 4,12 (quatro reais e doze centavos) por cada texto publicado, levando-se em conta que publico quatro textos por mês e que a o valor da assinatura mensal é de R$ 16,50 (dezesseis reais e cinqüenta centavos).
A assinatura anual sai por R$ 198,00 (cento e noventa e oito reais), ou R$ 0,55 (cinqüenta e cinco centavos) por dia.
Não é nada, vai!
Recebo, a cada semana, um tanto de e-mails de gente que me lê, de gente que gosta do que lê, de gente que se emociona com o que lê, de gente que divide muitas coisas comigo por conta dessa proximidade que a relação entre quem escreve e quem lê gera - e que eu, por gostar desse movimento, alimento.
Estão aí que não me deixam mentir, só para citar alguns, meu camarada Alfredo, de Manaus, que chegou-se pra mais perto desde os tempos do velho blog Buteco do Edu; o jovem (sem deboche) Octávio Zanon, de Florianópolis, de quem já lhes falei aqui, na semana passada; Thiago Ajary, de Niterói; Tiago Paiva, de Salvador, a quem conheci pessoalmente no começo do ano. E tantos outros.
Há um simbolismo no gesto da efetivação dessa assinatura, evidentemente.
A partir do próximo sábado o assinante da modalidade paga já receberá um texto diferente do texto que será direcionado para quem assina gratuitamente. Contendo mais fotografias, áudios, vídeos, muitos dos tesouros que amealhei ao longo de tanto tempo.
Reitero, pois, o apelo que já fiz na semana passada, aqui, e peço que você considere fazer essa graça.
É só clicar aqui e optar pela assinatura mensal ou anual. Conto contigo.
RIO, 459 ANOS
Estou a escrever a newsletter que chegará amanhã [hoje] para vocês, assinantes da Buteco do Edu, hoje [ontem], primeiro de março de 2024 - dia do 459º aniversário da cidade do Rio de Janeiro.
A cidade mais bonita do mundo - o que me parece ser um consenso.
A cidade onde nasceu meu filho.
A cidade que ele, aos poucos, começa a reconhecer como sua.
Tijuca, o bairro onde ele nasceu (como eu) e onde estão enterrados seu umbigo (num pé de peregum) e sua placenta (como adubo de uma amoreira, frondosa que só ela). Onde fica a praça Afonso Pena, que ele chama de minha praça. Onde fica o Maracanã, que ele tanto ama (como ama o Flamengo, como eu).
Copacabana, o bairro onde ele hoje vive. A praia, que ele tanto gosta.
Alto da Boa Vista, o bairro onde vivem os avós.
Gávea, o bairro onde ele estuda.
Torno a falar sobre isso, mas é incrível como o amor alucinante que me une ao Rio de Janeiro ganhou ainda mais intensidade, e novas cores, por conta do amor que, sei, Leonel sente pela sua aldeia.
O Rio humilha!
O VERBO FAZER
Faço aqui (olha o verbo fazer aí!) breve digressão para lhes dizer sobre o uso inconcebível que as pessoas fazem (!!!!!) do verbo fazer.
Cresci tendo febre.
Meu filho tem febre.
Quando, meus deuses, quando que as pessoas começaram a fazer febre?
De onde saiu isso?
As barbaridades não param por aí.
— Ah, a Laurinha fez febre essa noite, tadinha. Fiz Novalgina e passou.
A Laurinha não teve febre e não tomou Novalgina - por que, deuses meus?!
Quando, meus deuses, que as pessoas deixaram de ir para os lugares e passaram a fazer os lugares?!
Diz a pernóstica na fila do supermercado:
— Ah, minha filha você vai amar a Itália! Ano passado eu fiz Roma, depois fiz Nápoles, fiz Florença…
Por quê?!
Se alguém souber como começou essa praga, por favor, me escreva contando.
FOLHAS DE FIGO
Vamos ao divã imaginário.
Tenho sonhado com folhas de figo - e não consegui entender, ainda, o que quer dizer o sonho que tenho sonhado com intensa freqüência (é preciso frisar, com intensa freqüência).
Dormindo e acordado, quando invariavelmente me flagro assustado com as lembranças dos sonhos.
Dos sonhos com o cheiro do perfume das folhas de figo.
Dos sonhos com o perfume das folhas de figo nas mãos.
Um perfume vivo.
Como se, de fato, elas - as folhas de figo, seu perfume - estivessem aqui, ao alcance das minhas mãos, que tem estado permanentemente impregnadas desse cheiro que, é bem possível, apenas eu sinto.
Que é, convenhamos, o que mais importa.
O SONHO E O JOGO DO BICHO
Dia desses mandou-me extensa mensagem de voz, o Dyocil.
Dizia, em linhas gerais, que havia sonhado com um cavalo branco que, vindo em sua direção, galopando no meio da rua, entrou em disparada em um comércio - uma lotérica ou uma farmácia, ele pontuou - cujo piso era em cerâmica lisa… o que fez com que o cavalo caísse espatifado no interior da loja.
Joga no cavalo!, ele gritou no final da mensagem.
Eu, macaco velho com o jogo, pensei com meus botões: cavalo que entra correndo em loja de piso liso é burro.
Joguei R$ 100,00 no grupo 3, do burro.
Voltei à noite, pra casa, com R$ 1.520,00.
Ganhei R$ 1.800,00.
Apostei R$ 100,00, dei R$ 180,00 pra apontadora, voltei com o lucro pra casa.
É como digo sempre (e o festejado escritor Alberto Mussa concorda comigo): o jogo do bicho é ciência, não é sorte.
DAS PRATELEIRAS DO BUTECO DO EDU
Divido com vocês, hoje, já que ontem o Rio de Janeiro completou 459 anos, um texto que escrevi poucos dias antes do 450º aniversário da Cidade Maravilhosa, em 2015, há 9 anos portanto. Hoje, na seção Das prateleiras do Buteco do Edu, blog que mantive ativo de março de 2004 a dezembro de 2020, republico Rio, 450 anos, texto publicado no dia 28 de fevereiro de 2015, aqui.
O reli, claro, antes de transcrevê-lo. E fiquei, eis a confissão que faço, bastante comovido percebendo o quanto (e há quanto tempo!) estão cravadas em mim as memórias de tudo o que já vivi - e não foi coisa pouca, em quase 55 anos de vida, que completo no mês que vem, no dia 27.
“Nasci em 1969, quando o Rio de Janeiro acabara de comemorar, há pouco mais de um mês, 404 anos de idade. Hoje, eu às vésperas de completar a 46ª volta do ponteiro, testemunharei as festas que comemorarão os 450 anos da cidade mais bonita do mundo.
O Rio de Janeiro é minha aldeia. É onde me reconheço e onde reconheço os meus. É a cidade sobre a qual aprendi a deitar o olhar do estrangeiro na intenção sôfrega de descobrir e de usufruir de tudo aquilo que o nativo, costumeiramente preguiçoso nesse lançar do olhar à volta, deixa de perceber. O Rio de Janeiro era, no princípio, a vila de casas modestas na avenida Heitor Beltrão com piso de tábua corrida e porão, engolida anos depois por um grande supermercado. O Rio de Janeiro era a Praça Afonso Pena e o Salão América, onde cortei o cabelo, pela primeira vez, em março de 1970, levado pelas mãos do meu pai. O Rio de Janeiro passou a ser outra vila, na rua São Francisco Xavier 84 – e a vila tá viva, ainda lá. Eu morava na São Francisco Xavier 90, e foi ali que conheci os segredos da Tarcisa, a mulher de seios de mármore, quando eu ainda não sabia o que eram os tais segredos. Foi na casa de minha avó, na vila ao lado, que bati a primeira punheta da minha vida – como esquecer aquele átimo de segundo em que um choque correu a minha espinha de menino e que minha respiração ficou ofegante de um jeito diferente como nunca antes?! Eu tinha nas mãos uma edição da revista Amiga e o alvo de meus olhos atônitos era uma fotografia da estonteante Adele Fátima. O Rio de Janeiro passou a ter, àquela altura, a cor da pele da mulata das Sardinhas 88, a antítese do branco do mármore dos seios da Tarcisa. O Rio sempre foi dúbio. O Rio de Janeiro era o Maracanã, sua arquibancada de concreto (que eu vi cair num Flamengo e Botafogo), sua geral, que eu freqüentei com assiduidade, o Maracanã no qual Papai Noel chegava em dezembro, e foi num desses dias que eu, vascaíno (primeiro filho de pai vascaíno), fui carregado nos braços por ele, Arthur Antunes Coimbra, o Zico – e dali em diante eu nunca mais deixei de ser Flamengo, Flamengo até morrer eu sou. O Rio de Janeiro era a Praça Saenz Peña, um país a ser desbravado pelo moleque que já podia pegar o ônibus em frente à Igreja de São Francisco Xavier do Engenho Velho. O Rio de Janeiro era o cinema América, o Carioca, o Comodoro, o Bruni, o Café Palheta, era o Bode Cheiroso, que eu conheci quando mal alcançava o balcão, parada obrigatória de meu pai, todos os dias a caminho do colégio. O Rio de Janeiro era a Casa da Vovó, o Porto Seguro, o Palas, o Erva Doce – onde tomei o primeiro porre da minha vida assistindo Moacyr Luz, voz e violão, na Antônio Basílio. O Rio de Janeiro era o Caras & Bocas, Haddock Lobo com rua do Bispo, onde eu era uma espécie de mascote, levado pelas mãos do professor de Química do colégio. O Rio de Janeiro era Brizola, a quem eu seguia (e perseguia) na medida das possibilidades dos meus 13 anos. O Rio de Janeiro era a Tijuca, sobretudo a Tijuca, o Rio de Janeiro era o Salgueiro, a quadra do Salgueiro, as mulatas do Salgueiro, era o Engenho Novo, onde morava minha tia Noêmia e seu jardim enfeitado por uma estátua do Cristo Redentor cercado pela Branca de Neve e os Sete Anões, palco de uma festa de quinze anos, em pleno verão, com direito a lareira acesa e música flamenca em vez de valsa. Foi no Rio de Janeiro que namorei e onde morri de amores, como convém a um tijucano de quatro costados. Vivia em Campo Grande, no Clube 34, com medo da imensa piscina redonda onde morrera um moleque sugado pelo ralo, tive medo da Mulher Loura, freqüentei o Tivoli Park, era doido pela carne do Rincão Gaúcho e pelo show do Carequinha, namorei no Monte Sinai, nadei, lutei jiu-jitsu, tive aula de violão com Almir Chediak, freqüentei muita sinagoga em troca de uns trocados que os velhos judeus me davam pra fazer número na reza do shabat, namorei na Barra da Tijuca quando a Barra da Tijuca era só areia e matagal e alcançada depois de atravessar o Alto da Boa Vista a bordo do 233 ou do 234. Freqüentei a Praia do Pepino quando ainda não havia a Lagoa-Barra. Vi nascer a roda de samba no Lapases, na Lapa, comandada pelo Monarco, na Casa da Mãe Joana, casei – com pompa e circunstância, no Mosteiro de São Bento – e me separei, vi e vivi o auge do Bar da Dona Maria, conheci de perto muitos de meus ídolos, fiquei amigo de muitos deles, morro de saudade dos que já morreram, aprendi os segredos da feijoada no Cafofo da Surica, em Oswaldo Cruz, fui parar no Pagode da Tia Doca, depois de me perder pelo caminho e de pedir indicação a um paulista!, lancei um livro em 2005, criei um bloco de Carnaval, criei laços fortíssimos com a Unidos de Vila Isabel, com a rapaziada do Morro dos Macacos e do Pau da Bandeira, ganhei uma afilhada lá, amealhei muitos afilhados até aqui – são mais de dez! -, casei-me pela segunda vez, vivi 12 anos com ela, fiquei viúvo, quis morrer mas desisti, cruzei meses depois disso com um par de olhos que eu sabia – eu sabia! – que seriam meus, e é ao lado deles, sob a mira deles e olhando pra dentro deles que chego ao Primeiro de Março de 2015. Eu ainda era moleque quando apresentei o velho Centro do Rio à minha mãe, quando o velho Centro do Rio estava decadente, mas foi ali, no velho Centro, na Praça Tiradentes, que vi a centésima apresentação do João Bosco no Seis e Meia do João Caetano. Varei várias madrugadas no Nova Capela quando a Lapa era um deserto de Arcos e travestis. Vi o amanhecer diversas vezes saindo do Lamas. Fumei meu primeiro cigarro nas escadas de pedra do Palas na Conde de Bonfim. Matei muita aula pra ir ver o Flamengo no Carioca dos áureos tempos, a bordo do Horácio, o Passat do Nilsinho, fui a diversos shows no Teatro Ipanema, no Chico´s Bar, tinha mesa e cadeira cativa no Mistura Fina da Lagoa, desfilei na Marquês de Sapucaí pelo Salgueiro, pela Vila Isabel, pela Lins Imperial, pelo Império Serrano, pela Estácio de Sá, morro ano-após-ano no Sábado de Carnaval quando sai o Cordão da Bola Preta, cansei de beber na 28 de Setembro na esperança de encontrar o Noel Rosa, de quem morro de saudade. Faltam 15 minutos pra meia-noite, tenho uma espécie de febre de amor e de saudade. Sinto o cheiro de Paquetá, do talco que minha bisavó usava, o mau-cheiro do rio Maracanã, da Baía de Guanabara, o perfume da bosta dos cavalos da Xavier de Brito, sinto nos pés a lama da feira de São Cristóvão quando do lado de fora do Pavilhão, o bafo quente do vento de Marechal Hermes, o frisson do nascer do sol visto do Arpoador, a emoção do pôr-do-sol do Posto Nove, o barulho ensurdecedor da magnética torcida rubro-negra, ouço o canto sacrossanto das rezadeiras que puxam o côro no Círio de Nazaré na Tijuca, sinto o cheiro forte das folhas de arruda e de eucalipto que o caboclo Tupinambá, tendo meu pai como cavalo, farfalhava pela sala de todos os apartamentos nos quais morei, o gosto do jiló da Jane, da dobradinha da Tetê, do angu do Gomes, do mate Leão, do cuscuz do Sadam, do chope do Adonis, da sardinha da Adega Tudo do Mar, da cerveja do Amendoeira, do quintal do Aconchego, do sangue, do suor e das lágrimas de cada um que vive aqui, que passa por aqui, que se reconhece, como eu, aqui.
E viva o Rio de Janeiro!
Viva a carioquice!
E me perdoem o derramar meio atrapalhado dessas emoções que me dão um nó na garganta a poucos minutos desse réveillon afetivo pra todos nós, cariocas.
Até.”
LIVROS (A HORA DA JABALÂNDIA)
Publiquei poucas coisas até hoje.
Mas publiquei.
Meu lar é o botequim, que está esgotado, foi o primeiro (mentira, tenho vergonha do primeiro e por isso eu o omito). Pode ser comprado só em sebos (aqui) - tenho apenas um exemplar novo em folha e que estou aqui pensando como posso sortear.
De hoje não passa, escrito a quatro mãos (uma troca de cartas) com Julio Bernardo (aqui).
E Tijucanismos, aqui.
Uma ou outra coletânea… e olhe lá.
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A casa agradece.
UMA DICA DE PLAYLIST
Quero indicar a vocês, meus pouco mas fiéis leitores, uma das playlists que montei no Spotify - Rio de Janeiro - que já conta com 155 seguidores.
Ela será permanentemente incrementada (e eu aceito sugestões que podem ser enviadas por e-mail!).
Ela está aqui ou, se preferir, ouça já! - abaixo.
A referida playlist deve ser ouvida no modo aleatório e, repito, está longe de estar definitivamente pronta. Assim como eu.
Até.
Podemos continuar o papo (e você pode saber mais sobre mim, nessa exposição permanente que são as ~redes sociais~) no Twitter | no Instagram | ou no YouTube
Dúvidas, sugestões, críticas? É só responder esse e-mail ou escrever para edugoldenberg@gmail.com
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